sábado, 21 de novembro de 2020

Opinião: Asas de Prata (Faye #2)


Título Original:
Vingar av Silver (2020)
Autor:
Camila Lackberg
ISBN: 
9789897840548
Tradutor:
Elin Baginha
Editora:
Suma de Letras (2020)

Sinopse:

Depois do grande sucesso internacional de Uma Gaiola de Ouro, chega mais um episódio da história de Faye: traição, redenção e solidariedade feminina num novo drama sobre a vingança. Graças a um plano refinado e cruel, Faye deixou para atrás a traição e as humilhações sofridas pelo agora ex-marido Jack e parece ter assumido as rédeas da sua existência: é uma mulher independente, reconstruiu a sua vida num outro país e longe do seu passado, Jack está na prisão e a empresa que Faye fundou, Revenge (Vingança), está crescendo com sucesso.

Mas novos desafios correm o risco de quebrar a serenidade conquistada com muito esforço. De facto, o lançamento da marca Revenge nos Estados Unidos de América desperta uma séria ameaça e Faye é forçada a retornar a Estocolmo.

Opinião: 

Gostei tanto de ler Uma Gaiola de Ouro, o primeiro livro desta série, que fiquei muito entusiasmada quando soube da publicação do segundo. Queria saber que novas voltas a vida de Faye ia levar e descobrir mais sobre esta personagem que tanto me cativou. Queria saber que mais surpresas a autora Camila Lackberg tinha guardadas na mana para esta continuação.

No geral, a autora volta a incidir em força do feminismo e na união das mulheres. Volta a abordar os temas de igualdade e de misoginia existente no meio laboral. Por isso mesmo, a narrativa foca-se fortemente na dedicação de Faye para o negócio que fundou, ao mesmo tempo que concilia o trabalho com outras partes da sua vida. Prova de que uma mulher realizada é uma mulher feliz.

O tema da violência doméstica volta a estar bem presente nesta páginas. Ainda que não seja da mesma forma que aconteceu no livro anterior. É que encontramos uma Faye mais forte e segura de si. Mais consciente de quem é e da sua força. Isso é inspirador e prova que o nosso passado não tem de nos definir, que somos capazes de superar todos os obstáculos e alcançar o potencial que temos. Isto é visto não só na protagonista mas também em todas as figuras femininas desta narrativa.

Confesso, no entanto, que a narrativa não me cativou tanto como a do livro anterior. Senti que o motor da ação não era suficientemente forte, que a trama era algo previsível e que nunca existiu uma verdadeira sensação de perigo. Além disso, não fiquei fã das muitas referências a artigos de luxo, apesar de saber que esta é a forma de se mostrar o sucesso e fortuna da protagonista. Outro aspeto que achei desnecessário foram as longas descrições de cenas de sexo, pois fizeram sentir que este volume era mais romance erótico do que thriller.

Um dos aspetos mais positivos deste livro foram os capítulos dedicados ao passado de Faye. Aqui sim, sentiu-se o perigo, a tensão, terror, piedade e até nojo. Tratou-se de uma narrativa alternativa à história principal, mas que explica muito sobre as origens da protagonista. Além disso, fizeram-me vê-la de forma diferente e pensar sobre a legitimidade de se fazer justiça pela próprias mãos em casos extremos. 

Asas de Prata foi uma leitura rápida, mas que ficou aquém das expetativas. Sinto que os pontos que me deixaram mais impressionada no primeiro volume da saga se perderam nesta livro. Além disso, sinto que Faye sofreu uma transformação que a levou de protagonista empática para mulher que facilmente s entrega a ações recriminatórias com base em justificações pessoais. Não sei qual será o futuro de Faye, mas acredito que se irá tornar numa personagem cada vez mais obscura. E, apesar dos pontos mais negativos que apontei, continuo com curiosidade em saber mais sobre ela.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Opinião: Lockdown - Inimigo Invisível


Título Original: Lockdown (2020)
Autor:
Peter May
ISBN: 
9789897544545
Editora:
Marcador (2020)

Sinopse:
Escrito há mais de quinze anos, este thriller presciente e cheio de suspense decorre numa cidade em quarentena e explora a experiência humana sob o domínio de um vírus assassino.
Londres é o epicentro de uma pandemia global e a cidade está completamente confinada. A violência e a agitação espreitam por toda a parte e ninguém se encontra a salvo do vírus mortal que já ceifou milhares de vidas. Os hospitais estão sobrelotados e os serviços de emergência são impotentes. O inspetor Jack MacNeil demitiu-se da polícia, está divorciado e preocupado com o filho, que parece ter contraído o vírus. No seu último dia de trabalho, é ainda enviado para resolver o homicídio de uma criança, aparentemente relacionado com um saco de ossos encontrado na obra de um hospital de emergência. O culpado cruel faz tudo o que pode para frustrar MacNeil e a corrida contra o tempo começa numa Londres em confinamento. Quem deterá MacNeil primeiro: o vírus ou o assassino?

 Opinião:

Lockdown – Inimigo Invisível, é um livro de Peter May, publicado pela Marcador, que prova que a ficção muitas vezes se aproxima da realidade. Trata-se de uma obra que retrata um mundo em quarentena devido à ameaça mortal de um novo vírus. Um conceito que, atualmente é mais do que verosímil devido à atual pandemia. Contudo, este livro foi escrito há 15 anos e, na altura, não foi publicado por a editora achar o conceito demasiado irreal.

Com a ameaça atual provocada pelo novo coronavírus, Peter May recuperou o rascunho e a editora aceitou publicá-lo. Foi assim que Lockdown – Inimigo Invisível chegou às livrarias e roubou atenções. É que o tema atual torna-se apelativo, mas esta obra tem ainda outras elementos que proporcionam uma boa leitura. Existe um mistério cativante, personagens interessantes e um ritmo rápido e com bom encadeamento que faz com que se deseje saber a conclusão.

No caso desta obra, a pandemia é provocada por uma mutação do vírus da gripe das aves. As medidas de prevenção impostas são mais duras do que aquelas que assistimos em 2020, mas a ação do vírus da ficção também é mais perigosa. Ainda assim, é fácil imaginar o ambiente de tensão que é descrito. No meio de tudo isto, o aparecimento de ossadas de uma criança acaba por ser o motor que faz mover toda a narrativa. Tal como o detective MacNeil, também o leitor vai desejar saber quem era aquela vítima, quem lhe fez mal e qual terá sido o motivo que provocou a sua morte.

O desenrolar dos acontecimentos é rápido, havendo sempre algo a acontecer ou alguma nova informação a surgir. Isto faz com que a leitura avance a bom ritmo e depressa cheguemos à conclusão da história. As motivações gerais fazem sentido e levam-nos a questionar a nossa própria atualidade e o que não é dito ou exposto. Por ser uma obra rápida e focada na acção, as personagens acabam por ter uma construção algo superficial, mas que funciona no panorama geral da trama.

Peter May conseguiu criar uma história com boa intriga e num ambiente que todos nós conseguimos entender. Mesmo que na altura que ele o tenha imaginado tivesse parecido impossível aos olhos de todos. Lockdown – Inimigo Invisível revela-se um thriller intenso e pertinente.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Opinião: Minha Sombria Vanessa


Título Original:
My Dark Vanessa (2020)
Autor:
Kate Elizabeth Russel
ISBN: 
9789897104435
Editora:
Chá das Cinco (2020)

Sinopse:

Em 2000, Vanessa Wye é uma adolescente de 15 anos ambiciosa e solitária. Sonhando ser escritora, não se importa de estar sempre sozinha, mas abre uma exceção quando Jacob Strane, o seu professor de inglês, lhe começa a dar mais atenção. Antes que Vanessa tenha consciência, iniciam uma relação, e ela acredita que ele realmente a ama.
Em 2017, uma ex-aluna acusa Strane de abuso sexual. Vanessa fica perante uma escolha impossível: ficar calada, acreditando que se havia envolvido voluntariamente naquela relação… ou redefinir a sua grande história de amor como mera violação. Por um lado, não quer rejeitar esse primeiro amor, o homem que a transformou e tem sido uma presença constante na sua vida. Por outro, será possível que ele seja muito diferente do que ela pensava? Será ela apenas mais uma vítima?
Alternando entre passado e presente, Minha Sombria Vanessa é um retrato excecional de uma adolescência conturbada e das suas consequências, levantando questões cruciais sobre liberdade, consentimento, abuso e vitimização, captando de forma brilhante uma cultura em mudança que transforma as nossas relações e a própria sociedade.

Opinião:

Minha Sombria Vanessa é um livro de Kate Elizabeth Russel, publicado pela Chá das Cinco, chacela da Saída de Emergência. Trata-se de uma obra impressionante e, em muitos momentos, perturbadora. Nesta obra, somos apresentados a Vanessa em dois períodos bem diferentes da sua vida. Um em que é adolescente, outro em que é uma adulta no início dos 30. Desta forma, ficamos a conhecer o início de uma relação abusiva e as consequências que situação lhe trouxe.

O início deste livro é algo hipnotizante. A autora consegue explorar muito bem a mente da personagem principal da narrativa. O leitor, mero observador, consegue perceber que Vanessa é atraída para uma armadilha, que é manipulada para pensar e agir em conformidade aos desejos de um predador. Nas mãos de Jacob Strane, um homem bem mais velho, Vanessa acaba por cair numa teia de destruição. É doloroso assitir a momentos em que ela é induzida a participar, havendo uma luta interna entre a própria vontade e o desejo de agradar a Strane.

É que Kate Elizabeth Russel explica-nos um pouco como funciona a mente de uma vítima deste tipo de abusos. Ao ler este livro, somos sensibilizados para a forte manipulação que é exercida por parte do predador. Quando Vanessa se revolta ou tenta tomar uma posição contrária a Strane, este consegue levar a sua avante, modificando a percepção de factos e acontecimentos a seu favor ou fazendo comentários que façam com que Vanessa se sinta dependente dele. Por muito que nos custe aceitar, de certa forma é possível perceber o porquê de ela o defender.

A autora debruça-se muito sobre a forma como a personalidade de Vanessa foi afetada por esta relação. A jovem que já era pouco sociável afastou-se ainda mais de todos. Presa nos próprios pensamentos, tem dificuldade em lidar com o que é certo e errado, com o que realmente quer, é depente do agressor na tomada de decisões, torna-se mais carenta e encontra conforto em situações que a recordam Strane. Assistir a isto é doloroso. Faz pensar que uma situação destas não se remete a um episódio, mas que condiciona e prejufica uma vida.

Ler Minha Sombria Vanessa é receber uma mensagem para se ser mais alerta. Alerta nas nossas próprias relações e das relações do que nos rodeiam. Mas não só. Este livro é também um gesto empático para com todas as vítimas. É que a autora, ao colocar-nos na mente da vítima, faz-nos perceber melhor certos comportamentos, ações ou decisões. As críticas a estes casos de pessoas, revoltadas, que questionam “porque não denunciou logo?”, “porque continou?”, entre outras, denotam falta de conhecimento e empatia pelo lado da vítima. Kate Elizabeth Russell recorda que o comportamente humano não é preto no branco e que quem passa por estas situações está em sofrimento. Quando o abuso acontece e até mesmo depois. Que existem marcas que não desaparecem e feridas que demoram a sarar.

domingo, 15 de novembro de 2020

Opinião: O Último Voo

Título Original: The Last Flight (2020)
Autor:
Julie Clark
ISBN: 
9789897544576
Editora:
Marcador (2020)

 Sinopse:

Claire Cook tem uma vida perfeita. É casada com o herdeiro de uma dinastia política, tem uma casa em Manhattan e dez empregados. O ambiente em que vive é elegante, os seus dias são perfeitamente coreografados e o seu futuro é auspicioso. Mas, à porta fechada, nada é o que parece. Esse marido perfeito tem um temperamento tão fulgurante como a sua promissora carreira política, e usa a sua equipa para seguir todos os passos de Claire, certificando-se de que ela cumpre as suas exigências impossíveis. Mas o que ele não sabe é que Claire preparou durante meses um plano para desaparecer.

Um encontro casual num bar do aeroporto fá-la conhecer uma mulher cujas circunstâncias parecem igualmente terríveis. Juntas, tomam uma decisão de última hora: trocam os bilhetes. Claire apanha o voo de Eva para Oakland e Eva apanha o de Claire para Porto Rico. Acreditam que a troca lhes dará a oportunidade de que precisam para recomeçar a vida num lugar distante. Mas o inesperado acontece… 

Opinião:

O Último Voo é um livro de Julie Clark, publicado pela Marcador. Trata-se de uma thriller que conta a história de duas mulheres. E se, ao início, conhecemos logo as motivações de uma delas, Claire, o mesmo não se passa com a outra, Eva. Os capítulos intercalam entre os pontos de vista de cada uma, tempo da história e passado, criando uma narrativa de ritmo rápido e de leitura interessada.

Com a leitura dos primeiros capítulos, fica logo a sensação que estamos perante duas mulheres que têm histórias muito diferentes. Isso faz com que as motivações para quererem fugir sejam distintas, sendo o desespero e o desejo de desaparecer num local novo o ponto em comum. Gostei que a autora tivesse explorado o passado de cada uma com inspiração em situações credíveis e reais.

Ao longo da leitura, vamos refletindo sobre  violência doméstica e sobre como é necessária coragem, determinação e apoio externo para sair destas situações. Somos também levados a pensar sobre abandono, negligência na educação e em como podemos cair em situações críticas quando em necessidade. Mas sobretudo, refletimos sobre como as mulheres podem ser fortes sozinhas e ainda mais quando se unem.

Com este livro, vivemos uma aventura muitas vezes tensa e somos recordados que devemos ter sempre esperança de uma vida melhor. Com luta tudo se consegue, e fica ainda mais fácil quando no nosso caminho surgem as pessoas certas. É preciso confiar, arriscar e saber que merecemos melhor. 




sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Opinião: O Anjo de Munique

Título Original: L'angelo di Monaco (2020)
Autor:
Fabiano Massimi
ISBN: 
99789897840500
Tradutor: Inês Guerreiro
Editora:
Suma de Letras (2020)

Sinopse:

Munique, Setembro de 1931. Faltam poucas semanas para que umas eleições históricas outorguem o poder aos nazis. O comissário Sigfried Sauer é chamado com urgência a um elegante apartamento, onde Angela Raubal, 22 anos, conhecida como Geli, é encontrada no seu quarto sem vida. Ao lado do corpo um revólver, tudo sugere que se trata de um suicídio.

Geli, no entanto, não é uma mulher comum e o apartamento onde vivia e morreu, bem como o revólver que disparou o tiro fatal, não pertencem a um homem qualquer, são do seu «tio Alf», que o resto da Alemanha como Adolf Hitler, o político mais notório do momento. Em parte também por causa dessa estranha relação com a sua sobrinha, fonte de indignação e escândalo entre as fileiras dos seus inimigos e entre os seus colaboradores mais próximos. Sempre juntos, sempre felizes e sorridentes numa intimidade adolescente.

O inspector Sauer se encontra dividido na sua investigação entre aqueles que o mandam encerrar a investigação passadas escassas horas e aqueles que o instruíram a ir ao fundo do caso e descobrir a verdade, qualquer que seja.

Opinião:

O Anjo de Munique é um livro de Fabiano Massimi, publicado pela Suma de Letras. Trata-se de uma obra fortemenente inspirada em factos históricos, na qual factos e ficção se entrelaçam com mestria. Fabiano Massimi recupera o mistério que rodeia a morte de Angela Raubal, a adorada sobrinha de Adolf Hitler que perdeu a vida a vida aos 23 anos.

Ao longo da narrativa, acompanhamos a investigação policial que é feita a este caso. Através do ponto de vista do agente Sigfried Sauer, ficamo a conhecer as muitas hipóteses, as pistas que vão surgindo e, com isso, começamos a avistar uma possibilidade de verdade para esta morte. Ao mesmo tempo, encontramos inúmeras figuras históricas. Personalidades estas que recebem a criatividade do autor no que toca a construção, sendo esta baseada em registos factuais.

Ao ler O Anjo de Munique, surge a sensação de que esta história poderia ser real. O autor fudamentou muito bem as suas escolhas, sendo, por vezes, difícil distinguir o que é facto do que é ficção. Nota-se que existiu um grande trabalho de investigação para que a narrativa ficasse o mais fiel à realidade possível. Além disso, o rápido desenrolar dos acontecimentos e as muitas reviravoltas existentes fazem com que esta trama seja apelativa e proporcione uma leitura interessada.

Terminada a leitura, senti que estive perante uma obra de grande qualidade. Ficou a vontade de pesquisar sobre alguns acontecimentos e figuras históricas, de modo a saber mais sobre esta época tão decisiva, não só para a Alemanha, mas para o mundo em geral. O Anjo de Munique resgata um episódio muitas vezes esquecido, mas que é crucial e que deve ser recordado.