segunda-feira, 21 de maio de 2012

Entrevista a Renato Carreira

Autor de “O Fim Chega Numa Manhã de Nevoeiro” (2011) e "História de Portugal Director´s Cut" (2008), ambos publicados pelas Edições Saída de Emergência, Renato Carreira prova que é um escritor versátil. Para além de ter o seu nome nas duas obras mencionadas, ainda possui experiência na televisão, imprensa e na tradução. Renato é também o criador do site satírico InÉpcia, online desde 2001, que mais tarde deu origem a “Inépcia – O Livro Mais Importante Desde a Bíblia” (2005). As novidades acerca do autor podem ser seguidas através do seu blog pessoal, Capítulo Zero, ou através da página no Goodreads.
Deixo o meu agradecimento ao Renato Carreira, pela simpatia e disponibilidade que demonstrou ao responder a esta entrevista.

Uma Biblioteca em Construção (U.B.C.) - Escritor, tradutor, satírico…como preferes ser apresentado?

Renato Carreira (R.C.) - Espero não ser simples ao ponto de poder ser definido por uma dessas três atividades ou, de forma isolada, por qualquer das outras coisas que faço. Por todas juntas talvez me agrade mais. Mas não somos só aquilo que produzimos.

U.B.C. - É fácil afastar a tradução do processo criativo?

R. C. - A tradução também envolve criatividade. Um tradutor recria um texto numa nova língua e, sem criatividade, o resultado seria parecido com as traduções do Google.

U.B.C. - Mas consegues separar o que estás a traduzir do que estás a escrever de tua autoria? Como fazes para manter os dois trabalhos distintos?

R. C. - São coisas diferentes. Traduzir é rescrever um texto noutra língua. Quando se escreve, não há material de origem. Sai-nos tudo da cabeça.

(2011)


U.B.C. - Como surgiu esta inÉpcia?

R. C. - Surgiu em 2001 por vontade de fazer sátira jornalística numa altura em que não se fazia nada parecido em Portugal e na sequência de outros projetos online. Com os anos, evoluiu para outras coisas além da sátira e cá estamos.

U.B.C. - O desenvolvimento do teu trabalho no site foi responsável pelo aparecimento do desejo de teres livros publicados?

R. C. - Escrever coisas para publicar na internet alimentou, sem qualquer dúvida, o desejo de escrever noutros formatos. Mas isto começou muito antes da inÉpcia, com outros sites e até com emails longos para amigos.

U.B.C. - Quais são as tuas principais influências na escrita?

R. C. - As influências na escrita são tudo o que consumi e vou consumindo. Não só em termos de literatura (com e sem bonecos), mas também em termos de cinema, televisão, música, jogos etc. "O Fim Chega Numa Manhã de Nevoeiro" foi muito influenciado, como disse na altura, por um tipo de cinema de aventuras que esteve muito em voga na década de 80 e que entretanto desapareceu quase por completo. Mas não foi essa a única influência, claro.

U.B.C. - "O Fim Chega numa Manhã de Nevoeiro" possui um estilo muito diferente dos livros anteriores. Foi uma necessidade de fugir ao registo cómico?

R. C. - Não foi uma necessidade, mas sim uma vontade.

U.B.C. - E era uma vontade que já vinha a surgir a algum tempo?

R. C. - Sim. Ao longo dos anos, comecei vários romances que foram abandonados ou adiados para momento posterior. Esse foi o primeiro que chegou ao fim. Também escrevi coisas mais curtas.

U.B.C. -Porquê pegar no mito sebastianista?

R. C. - Porque é uma das melhores histórias dentro da nossa história. Ocorreu-me que teria graça pegar no desejo de regresso de D. Sebastião, concretizá-lo e empurrar os resultados na direção oposta ao que se esperaria. Um pouco no espírito da expressão "tem cuidado com o que desejas..."

(2008)

U.B.C. -Inspiraste em ti próprio na criação das personagens?

R. C. - Não. Sou uma pessoa muito pouco interessante e daria uma personagem aborrecida.

U.B.C. - Tanto "O Fim Chega numa Manhã de Nevoeiro" como o "História de Portugal Director´s Cut" possuem conteúdos intimamente ligados ao nosso País. Achas que esse fator se trata de um risco ou de uma vantagem no mercado atual?

R. C. - Se os leitores portugueses forem avessos a ler coisas sobre Portugal, acho que algo estará muito errado. Mas também não acho que uma coisa intimamente ligada ao nosso país seja superior à partida a outra coisa completamente desligada. Há lugar para tudo.

U.B.C. - Quais as principais dificuldades do processo de tradução?

R. C. - A maior dificuldade é traduzir um texto mau e equilibrar a fidelidade ao original com o dever de enviar à editora um livro com qualidade. Quando os textos são bons, não há dificuldades, mas sim desafios. O principal é o desafio de tornar a tradução tão boa como o material de origem.

U.B.C. - Qual foi o livro que te deu mais prazer traduzir?

R. C. - Gostei muito do "Restaurante no Fim do Universo" do Douglas Adams e dos dois livros do Terry Pratchett ("Homenzinhos Livres" e "Nação") por exemplo. Mais recentemente, deu-me um gosto especial traduzir o Joe Abercrombie. É um autor que não conhecia e de quem fiquei admirador.

U.B.C. -Houve algum que te tivesse feito perguntar “como é que isto foi publicado?”

R. C. - Houve vários. Mas os títulos guardo-os para mim.

(2005)

U.B.C. - O que é mais fácil: escrever sátiras ou os ditos “textos sérios”?

R. C. - São géneros diferentes que exigem esforços diferentes. Não posso dizer que um seja mais fácil ou difícil que o outro.

U.B.C. - Como lidas com as críticas?

R. C. - Com as críticas em que se percebe que o autor sabe do que fala e perdeu tempo a pensar no assunto antes de escrever, lido bem. Mesmo quando são negativas. Podem ser muito úteis e encaminhar para pontos de vista que não nos ocorreriam. Com as críticas de pessoas que acham piada a ser "crítico" e que se interessam mais por uma mordacidade forçada do que pelo conteúdo do que supostamente criticam, não lido de todo. Passam-me completamente ao lado.

U.B.C. - Neste momento estás a trabalhar em algum manuscrito?

R. C. - Sim. Estou a trabalhar num livro juvenil de aventuras e a ultimar a preparação de um conto lançado em formato ebook. Convido quem quiser mais pormenores a seguir-me no facebook: https://www.facebook.com/ooutrocarreira

U.B.C. -Como queres ficar conhecido para a posterioridade?

R. C. - O meu epitáfio de sonho seria: "Aqui jaz Renato Carreira. Um tipo que fez por isso."

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