domingo, 19 de maio de 2013

Opinião: A Loja dos Suicídios

Autor: Jean Teulé
Título Original: Le Magasin des Suicides (2007)
Tradução: Susana Serrão
ISBN: 9789897020650
Editora: Guerra & Paz (2013)


Sinopse: 

Imagine um negócio de família que envolve a venda de todos os ingredientes possíveis para a prática do suicídio, nas suas mais diversas formas. Corda, pistolas, facas, venenos e toda uma panóplia de produtos mortíferos. São cinco as personagens que compõem esta família atípica que gere a loja há várias gerações: os pais, profissionais, comerciantes; o filho primogénito, deprimido crónico mas extremamente criativo no seu domínio; a irmã, exemplo típico da adolescente inadaptada; e finalmente o irmão mais novo, verdadeiro grão de areia na engrenagem deste comércio lúgubre: é que ele se atreve a sorrir e a ser... optimista. Com uma ambiência digna de um filme de Tim Burton, A Loja dos Suicídios é uma comédia negra futurista que invoca o grande adversário da família Tuvache e do seu sinistro empreendimento: a alegria de viver.

Opinião:

 A Loja dos Suicídios é um livro que dificilmente deixa o leitor indiferente. Recheado de humor negro e de situações caricatas, tem como ponto principal uma questão sensível e que divide opiniões: o suicídio.

Ao início, o autor dá-nos a conhecer o estabelecimento que dá o nome ao título. Os proprietários desta loja familiar orgulham-se da qualidade dos produtos que possuem. Orgulho e entrega a este negócio de grande sucesso parecem mesmo ser os únicos pontos considerandos normais desta família. Desde cedo, percebemos o clima negro, negativo, pessimista e sem esperança que rodeia lojistas e clientes. Com o desenrolar da trama, percebe-se que este ambiente afecta todo um mundo futuro, onde o desenvolvimento humano. O autor faz, assim, refletir sobre que futuro será gerado pelas ações e valores atuais.

Narrada na terceira pessoa, o leitor tem acesso aos acontecimentos no ponto de vista das personagens que compõe a família proprietária da loja. De todas menos de Alan, um rapaz que difere deste mundo pela sua atitude positiva, pelo sorriso constante, pelas gargalhadas, pela tentativa de fazer com que os outros encontrem beleza e alegria na vida, mesma nas situações mais angustiantes. Alan surge como um raio de luz no meio da escuridão, sendo que a sua diferença o leve a ser visto com desprezo e incompreensão pelos outros.

"-Alan!... Quantas vezes será preciso dizer! Não se diz «Até à vista» aos fregueses que saem daqui. Diz-se «Adeus», pois nunca mais voltam. Quando é que vais perceber isso?"

O papel de Alan é fundamental para o leitor perceber uma das mensagens mais evidentes do autor. Jean Teulé explora o poder das atitudes positivas para a mudança e talvez, por isso mesmo, escolher escrever esta bonita história com um tom humorístico.

Ao longo da narrativa, são várias as personagens que visitam esta loja. Passagens fugazes mas repletas de significado, uma vez que são testemunho do desespero humano nas mais variadas condições, apesar de tal nem sempre ser observado de uma forma direta. Deste modo, o autor explora o tema do suicídio. De uma forma leve, leva-nos a pensar sobre esta problemática, sobre as condições psicológicas e as circunstâncias da vida que levam a alguém optar por esta via e de que modo. É ainda interessante a apresentação de figuras históricas que optaram por esta via para colocar termo à vida.

A escrita é viciante e muito fácil de acompanhar. A leitura é feita com rapidez, muito graças ao tom utilizado mas também às descrições mórbidas que são feitas e que, de certo modo, acabam por roubar atenções.

O final revela-se surpreendente e um choque. Dá-nos a perceber que, num tom de brincadeira, o autor pretendia chamar a atenção para realidades muito sérias. Faz-nos pensar em máscaras e na ideia de que aquilo que as pessoas transmitem nem sempre corresponde à verdade. Ver uma leitura tão divertida terminar de uma forma tão impressionante apela às emoções e leva-nos a revisitar toda a trama.

Este é um livro que se revela um mimo. De fácil leitura, propicia momentos animados e que nos fazem sorrir, aos mesmo tempo que levam a importantes reflexões de foro social e pessoal. Recomendo.

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