sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Opinião: O Silo (Série O Silo #1)

Título Original: Wool (2012)
Autor: Hugh Howey
Tradução: Alberto Gomes
ISBN: 9789722351409
Editora: Editorial Presença (2013)

Sinopse:

Num mundo pós-apocalíptico, encontramos uma comunidade que tenta sobreviver num gigantesco silo subterrâneo com centenas de níveis, onde milhares de pessoas vivem numa sociedade completamente estratificada e rígida, e onde falar do mundo exterior constitui crime. As únicas imagens do que existe lá fora são captadas de forma difusa por câmaras de vigilância que deixam passar um pouco de luz natural para o interior do silo. Contudo há sempre aqueles que se questionam... Esses são enviados para o exterior com a missão de limpar as câmaras. O único problema é que os engenheiros ainda não encontraram maneira de garantir que essas pessoas regressem vivas. Ou, pelo menos, assim se julga...

Opinião:

O Silo é um livro que, sem dúvida, marca a diferença. Apesar de surgir numa altura em que as histórias pós-apocaliticas estão bastante em voga, este livro que marca o início de uma série de autoria de Hugh Howey apresenta um conceito e uma exposição da trama distinta.

É possível dividir a trama deste volume em três fases. Numa primeira fase, é possível acompanhar directamente o xerife Holston, homem atormentado pela perda prematura da mulher. Através do intercalar de momentos presentes e passados, o leitor entre nesta nova sociedade, percebe, apesar de uma forma superficial, o seu funcionamento e depara-se com um cruel castigo que é imposto a todos os que expressam a sua vontade de saber mais ou que questionam a autoridade imposta. Logo aqui percebe-se que se está perante uma realidade autoritária, apesar de quer fazer parecer ser democrática.

Numa segunda fase, o leitor acompanha a Governadora Jahns, uma mulher idosa que transporta por uma viagem que expõe a verdadeira dimensão e funcionamento do Silo. Aqui, percebe-se a preocupação do autor em criar uma sociedade sustentável e hierarquizada. Apesar de estas duas fases estarem bem conseguidas e de servirem o seu propósito, a verdade é que acabam por não agarrar completamente o leitor. Afinal, ambas parecem não ter uma continuidade, o que faz com que não haja um seguimento lógico e uma desencadear de acontecimentos mais consistente.

Com o iniciar da terceira fase, surge a sensação de que os sentimentos que surgiram nas duas anteriores se vão repetir, mas felizmente tal não acontece. Juliette, mulher inteligente, perspicaz e trabalhadora, torna-se a personagem central e rapidamente cativa. É também com interesse que se entra nos pisos dos mecânicos e se assiste às rivalidades entre actividades. Através de Juliette começa-se ainda a perceber melhor alguns do segredos do Silo e a mensagem que surge na capa depressa começa a fazer sentido. A verdade pode mesmo matar.

Os segredos expostos acabam por corresponder a algumas das hipóteses formuladas ao longo da leitura e, por isso, não são propriamente surpreendentes. Contudo, à medida que são revelados, desencadeiam momentos de maior acção que não só entusiasmam a leitura como provocam significativas mudanças e ainda fazem o leitor pensar nas consequências de certos actos. Afinal, mesmo os feitos realizados tendo como objectivo a obtenção de melhorias podem culminar em algo pior do que aquilo que já existia.

Mais do que explorar este mundo pós-apocalitico ou de concentrar-se no desenrolar de acontecimentos, O Silo procura expor diversas dimensões das relações humanas. O autor consegue exibir com eficácia os valores e personalidades das suas personagens, fornecendo, desta forma, consistência às acções das mesmas. Até as atitudes de figuras que, a certo momento, podem ser consideradas como as vilãs da história acabam por ser compreendidas, quando as suas convicções são expostas. É interessante ver como o autor faz todas as suas personagens acreditarem que estão a lutar pelo bem comum, não existindo, por isso, uma ideia de bem e mal. Também é com curiosidade que se assiste ao desvendar da verdadeira natureza de cada uma destas figuras em momentos de maior tensão.

Mesmo a própria ideia da utilização de estruturas baseadas nos conhecidos silos é curiosa. O autor faz uma analogia entre a vida humana e as sementes, mostrando que aquele é um espaço que guarda vida. Contudo, o que acontece ao que é guardado durante demasiado tempo é de conhecimento geral e desvenda um pouco do que pode vir a acontecer a esta forma de escapar a um mundo inabitável.

O Silo pode não ser um livro no qual é fácil entrar, mas quando finalmente consegue envolver o leitor torna-se difícil de largar. Bem escrito e estruturado, promete ser o início de uma saga que trará muitas revelações e reflexões pertinentes.

Saiba mais sobre este livro no site da Editorial Presença, aqui.

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