quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Opinião: O Castelo de Gormenghast

Título original: Gormenghast (1946)
Autor: Mervyn Peake
Tradução: José Manuel Lopes
ISBN: 9789896372255
Editora: Edições Saída de Emergência (2010)

Sinopse:

O imenso castelo de Gormenghast é governado pela família Groan desde tempos imemoriais. Titus, o novo senhor da fortaleza e orgulhoso descendente de uma nobre linhagem, prepara-se para uma vida preenchida por rituais ancestrais e formalidades complexas. Mas estranhas e inesperadas circunstâncias despertam-lhe o desejo de conhecer o mundo para lá do labirinto de pedra que encerra a sua vida. Nas sombras das torres antigas, Steerpike, um jovem sinistro e traiçoeiro, continua a ambicionar o poder dentro de Gormenghast. Mas Titus apercebe-se da sua natureza maquiavélica e o confronto torna-se inevitável. Para as estranhas personagens que habitam o castelo, habituadas a séculos (e talvez milénios) de rotinas, nada mais será o mesmo. "Os livros de Peake acrescentam algo de novo às nossas vidas; oferecem-nos sensações que nunca antes experienciámos, e engrandecem a nossa concepção do mundo."- C. S. Lewis "Um vocabulário vastíssimo e personagens maravilhosas neste mundo denso e desmoronado de Gormenghast. Sublime!"-The Times

Opinião:
A Saída de Emergência publica o segundo volume da trilogia Titus de Mervyn Peake, cerca de três anos após o primeiro livro ter chegado aos leitores portugueses.

O final de Titus, o Herdeiro de Gormenghast, revela uma época de mudança para a sombria fortaleza onde as rotinas são sagradas. Em O Castelo de Gormenghast, o autor recorda algumas personagens emblemáticas que pereceram durante o primeiro volume, ao mesmo tempo que apresenta novas figuras e torna outras mais presentes na narrativa.

O desaparecimento de Sourdust faz com que Barquentine se torne o novo Mestre de Rituais de Gormenghast, que toma o já conhecido e ambicioso Steerpike como discípulo. O Guardião Hereditário das tradições vive atormentado com a sensação de estar a ocorrer uma subtil mas maléfica mudança em Gormenghast. Apesar de reconhecer o septuagésimo sétimo conde, Titus, agora com sete anos, Barquentine não deixa de suspeitar que algo de muito errado se passa com o rapaz.

Titus, o senhor da fortaleza, está a ser educado para se tornar um bom governante, preparando-se para “uma vida preenchida por rituais ancestrais e formalidades complexas”. Ao contrário do pai, o Lorde Sepulchrave, um prisioneiro do dever, Titus começa a evidenciar uma rebeldia contra as rotinas impostas à sua posição em Gormenghast:

“O futuro apresentava-se diante dele cheio de rituais infinitos e pedantes, mas sentia que algo lhe pulsava na garganta quando se rebelava. Ser um vádio! Um Cábula! Seria como ser um Conquistador…ou um Demónio.”

Em O Castelo de Gormenghast, seguimos uma década da vida no castelo, acompanhando o desenvolvimento do espírito crítico de Titus, assim como a crescente vontade de ser livre que acompanha o aumento das suas responsabilidades e o decorrer dos acontecimentos, o que o torna num jovem atormentado com um desenvolvimento bastante interessante.

Enquanto o primeiro volume é marcado por ter mais descrição que acção, no segundo livro assiste-se a uma maior actividade das personagens, que parece ser provocada pela crescente onda de mudança que assola o castelo, cujo senhor se afasta dos protocolos e formalidades que pautaram os governos anteriores, e onde uma personagem desafia as hierarquias através de uma ambição desmedida.

Mervyn Peake volta a gratificar os leitores com descrições maravilhosas, que, associadas a passagens mais humorísticas ou de acção concedem momentos de leitura deleitosos.

As personagens bizarras continuam a ser um factor bastante forte neste segundo volume, onde se destaca o envolvimento da Condessa Gertrud, nomeadamente devido às suas alterações e a forma como estas acompanham os acontecimentos, assim como o aparecimento de Bellgrove, um académico peculiar que proporciona momentos bem agradáveis e espirituosos.

Em O Castelo de Gormenghast, o leitor encontra paixão, amor, ódio, medo, confusão e morte, que, aliados a outros factores, tornam a leitura viciante. Este é, sem dúvida alguma, um livro de grande qualidade, que faz aguardar, com ansiedade, o volume que encerra a trilogia.


Outras opiniões a livros de Mervyn Peake:
Titus, O Herdeiro de Gormenghast

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