quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Opinião: Não Digas Nada

Título original: The Good Girl (2014)
Autor: Mary Kubica
Tradutor: Maria Teles
ISBN: 9789898626547
Editora: TopSeller (2014)

Sinopse:

Um thriller psicológico intenso e de leitura compulsiva, Não Digas Nada revela como, mesmo numa família perfeita, nada é o que parece.
Tenho andado a segui-la nos últimos dias. Sei onde faz as compras de supermercado, a que lavandaria vai, onde trabalha. Nunca falei com ela. Não lhe reconheceria o tom de voz. Não sei a cor dos olhos dela ou como eles ficam quando está assustada. Mas vou saber.
Filha de um juiz de sucesso e de uma figura do jet set reprimida, Mia Dennett sempre lutou contra a vida privilegiada dos pais, e tem um trabalho simples como professora de artes visuais numa escola secundária.
Certa noite, Mia decide, inadvertidamente, sair com um estranho que acabou de conhecer num bar. À primeira vista, Colin Thatcher parece ser um homem modesto e inofensivo. Mas acompanhá-lo acabará por se tornar o pior erro da vida de Mia.

Opinião:

Mary Kubica estreou-se com um thriller que reuniu ingredientes que aprecio: suspensa, mistério, personagens complexas e uma história que surpreende até à última linha de texto. Não Digas Nada fala-nos de um rapto e de uma família que se esconde nas aparências. Torna-se uma leitura cativante, com altos e baixos, mas que marca pela diferença.

Mia é a personagem à volta da qual toda a trama gira. Achei interessante que toda a narrativa fosse contada sobre pontos de vista de outras personagens que não ela. Sabemos como Mia era antes do rapto através da sua mãe, acompanhamos a investigação através de Gabe e, curiosamente, ficamos a saber tudo o que acontece a Mia durante o tempo que teve desaparecida através de Colin. E como se tal não bastasse, Mary Kubica faz-nos viajar no tempo, o que faz com que cada capítulo funcione como uma peça de um puzzle que o leitor está a montar na sua cabeça. Desta forma, a autora fornece-nos diferentes visões que nos ajudam a ver o cenário geral deste acontecimento.

Assim, é fácil perceber que durante o tempo em que esteve desaparecida, aconteceu algo a Mia que a mudou profundamente. A partir daí, existe uma necessidade crescente de perceber o que se passou, e a verdade é que quando tal é revelado, acaba por não ser uma grande surpresa. Contudo, aviso desde já para não ficarem desanimados, pois a autora guarda outras revelações que tornam o final muito interessante e que nos deixa a pensar em toda a história.

Mia não é uma personagem fácil de entender, afinal é-nos sempre apresentada sobre diferentes pontos de vista para além de que se registam grandes diferenças na sua personalidade quanto ao antes e depois do rapto. Só no final é possível tirar conclusões sobre esta jovem. Gostei muito de Eve, a mãe de Mia, que se revela uma mulher imperfeita mas que reconhece os seus erros e procura tornar-se alguém melhor. Gabe, o investigador, deixou-me um pouco indiferente, já que aquilo que mais me atraiu nele acabou por ser os desenvolvimentos nas buscas de Mia. Colin revelou-se uma personagem muito complexa. Gostei do facto de a autora querer mostrar que o raptor é humano, mas eu não deixei de o achar desiquilibrado.

O desenrolar dos acontecimentos não é linear, o que pode causar alguma frustração. Houve momentos em que pensei estar a encaminhar-me para um momento de grande relevância para a autora saltar de seguida para outro local e espaço temporal. Porém, admito que isto também faz com que seja difícil deixar de ler. O facto de os capítulos serem pequenos e do tipo de escrita ser simples e directo ajuda a manter o ritmo na leitura.

Penso que cada leitor pode ter uma visão diferente sobre o que aconteceu a Mia, mas, na minha perspectiva, a autora tentou debruçar-se sobre o que é o Síndrome de Estocolmo. Este estado psicológico pode não ser evidente e até mesmo colocado em causa devido à forma como está apresentado. Contudo, para mim, as cirscuntâncias narradas não devem ser confundidas com uma relação saudável. Existem restrições de liberdade e agressões psicológicas que dificilmente poderão ser persoadas. Mas mais uma vez vos aviso. há revelações que nos levam a repensar tudo.

Não Digas Nada proporcinou uma leitura agradável e intensa. Apresentou um mistério bem construído e fez-me pensar sobre as fragilidades humanas e sobre a importância dos afetos e dinâmicas familiares. Um livro que consegue surpreender até à última palavra.

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