segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Opinião: As Primeiras Quinze Vidas de Harry August

Título Original: The First Fifteen Lives of Harry August (2014)
Autor: Claire North
Tradução: Casimiro da Piedade
ISBN: 9789896376673
Editora: Edições Saída de Emergência (2016)

Sinopse:

Harry August não é um homem normal. Porque os homens normais, quando a morte chega, não regressam novamente ao dia em que nasceram, para voltarem a viver a mesma vida mas mantendo todo o conhecimento das vidas anteriores. Não interessa que feitos alcança, decisões toma ou erros comete, Harry já sabe que quando morrer irá tudo voltar ao início. Mas se este acumular de experiências e conhecimento podem fazer dele um quase semideus, algo continua a atormentar Harry: qual a origem do seu dom e será que há mais pessoas como ele? A resposta para ambas as perguntas parece chegar aquando da sua décima primeira morte, com a visita de uma menina que lhe traz uma mensagem: o fim do mundo aproxima-se. Esta é a história do que Harry faz a seguir, do que fez anteriormente, e ainda de como tenta salvar um passado que não consegue mudar e um futuro que não pode deixar que aconteça.

Opinião:

Há livros que nos fazem pensar sobre certas ideias de uma forma completamente diferente. Sempre me interroguei sobre o que faria se pudesse voltar a viver esta mesma vida tendo o conhecimento adquirido até ao momento da regressão. As Primeiras Quinze Vidas de Harry August pega neste conceito e revelou-me hipóteses que ainda não tinha colocado. Ao mesmo tempo, apresentou-me uma história intrigante, com um desenvolvimento envolvente e um final que me deixou muito satisfeita.

O protagonista não me agradou imediatamente, mas a sua história acabou por me cativar aos poucos e poucos. Gostei da sua evolução e da forma como ele encarou esta condição excecional. É curioso que a primeira vida tenha sido tão diferente de todas as outras. Fez-me pensar se terá sido assim devido ao conhecimento mais limitado que tinha ou se nós realmente temos maior tendência de nos agarrarmos ao que nos é confortável e não somos capazes de arriscar mais ou desenvolver as nossas capacidades. As catorze vidas que se seguem e que nos são apresentadas são distintas e umas chamam mais a atenção do que outras, como seria de esperar.

Numa primeira fase, a autora mostra como este homem encara esta capacidade que o difere da grande maioria da população. Depois, insere-o dentro de um pequeno grupo e fá-lo sentir-se menos sozinho. Só depois surge, ainda que de forma lenta, a parte da trama que funciona como motor para algo maior e mais emocionante. Neste momento, fui levada a interrogar-me sobre o futuro e sobre como certas decisões e ações o podem mudar por completo. Aqui a história ganha maior força, primeiro porque quis ver até onde a autora vai, depois porque fiquei impressionada com o plano que começou a ser colocado em prática.

O início da leitura não é propriamente simples, afinal a habituação aos saltos entre vidas pode não ser fácil, mas, com o desenrolar da narrativa, isto torna-se mais natural para o leitor. Também existem momentos longos de reflexão e de descrições, o que tanto pode gerar interesse como até algum aborrecimento, dependendo do tema abordado no momento. Porém, já na parte final, a leitura torna-se mais compulsiva, até que se chega a um final que, apesar de já ter sido adivinhado, não deixa de ser forte e trazer um sorriso aos lábios.

Terminada a leitura, cheguei à conclusão que, afinal, não gostava de ter esta capacidade de Harry August. Viver no mesmo espaço temporal vezes sem conta, não ser capaz de deter crimes e atrocidades, ver pessoas que amámos noutras vidas a tornarem-se completos estranhos e perceber que os nossos esforços são de pouco valor tornam esta existência prolongada quase como prisão sufocante. E a autora tenta mostrar isso mesmo ao levar muitas das suas personagens a optarem pelo Esquecimento.

As Primeiras Quinze Vidas de Harry August é um livro diferente de tudo o que li até aqui, que aborda de forma excecional um conceito muito interessante. Ao mesmo tempo, faz-nos pensar sobre diferentes temas inerentes à vida e ainda sobre o que estamos a fazer com a nossa própria existência, tendo em conta que não sabemos quando ela vai terminar. Uma leitura que recomendo.

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