quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Opinião: Cartas por um Sonho

Título Original: El invierno que tomamos cartas en el asunto (2015)
Autor: Ángeles Doñate
Tradução: São Amaral
ISBN: 9789896651015
Editora: Suma de Letras (2016)

Sinopse:

O Inverno chega a Porvenir e traz com ele uma má notícia: a estação de correios vai fechar e o pessoal vai ser transferido para a cidade. Quem precisa de um carteiro num mundo onde já não se escrevem cartas? Cartas Por Um Sonho é um livro comovente, encantador e cheio de ternura, onde, através da corrente de cartas, vão desfilando personagens do nosso quotidiano, todas elas com os seus sonhos, a sua história, mais ou menos triste, as suas frustrações.

Opinião:

Há histórias que são verdadeiras cartas de amor. Curiosamente, Ángeles Doñate decidiu escrever a sua... às próprias cartas. Como tal, Cartas por um Sonho acaba por ser uma homenagem  a este meio de comunicação, mas sobretudo à complexidade das relações humanas. A autora prova que todos estamos ligados, mesmo que, numa primeira análise, pareça que não exista nada que nos una para além da condição humana. Afinal, somos mais do que aquilo que mostramos e, assim que algumas barreiras caem por terra, somos capazes de aceitar outras vivências e pessoas na nossa vida.

No início da leitura, deparei-me com uma pequena vila comum a tantas outras: um lugar de onde os jovens saem, onde os mais velhos ficam, onde as casas começam a ser abandonas e onde os serviços desaparecem aos poucos e poucos. Porém, é amoroso ver como uma simples decisão e atitude faz com que este declínio evidente comece a retroceder. Uma cadeia de cartas enviadas por um remetente anónimo leva os habitantes deste local a unirem-se e a juntos lutarem por um objetivo comum. Ao mesmo tempo, é curioso ver que encontram novos objectivos e são desafiados a travarem novas relações.

Este livro tem um leque de personagens composto, mas apenas Sara e Rosa despertaram a minha empatia. Consegui entender a carteira que pensa que pensa ser demasiado velha para lutar pela felicidade e ainda a mulher idosa que não consegue esquecer o golpe duro com o qual magoou uma amiga. Porém, as outras figuras pareceram demasiado superficiais e desinteressantes.

As cartas que enchem estas páginas têm conteúdos bastante diferentes, mas todas revelam uma meta em comum: ajudar a carteira da aldeia a manter o seu posto de trabalho. Porém, ao mesmo tempo que estas cartas são escritas, os seus remetentes acabam por abrir o coração e fazerem confidências que acabam por tocar os destinatários. Quer seja através de uma revelação do passado ou uma simples receita, estes manuscritos marcam de maneiras diferentes e estimulam a partilha entre esta comunidade.

Existem momentos ternurentos ao longo desta leitura. Porém, também é verdade que muitas fases da trama são pouco atrativas. Isto acontece pela noção de repetição das mesmas ideias e também pela divagação excessiva. Infelizmente, tudo isto fez com que não me sentisse particularmente agarrada à história. Como tal, o ritmo desta leitura não é coerente, dependendo da fase da trama que estamos a atravessar. O final é o esperado, não guardando qualquer surpresa.

Cartas por um Sonho apresenta uma bonita lição de humanidade, mas carece de uma força maior que cative. Contudo, não deixa de ser um livro que tem passagens bonitas e bem conseguidas, para além de que é importante realçar o facto de fazer pensar sobre o facto de estarmos cada vez mas fechados num mundo com imensas possibilidades de comunicar.

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