quarta-feira, 5 de abril de 2017

Opinião: Os Imperfeitos (#1)

Título Original: Flawed (2016)
Autor: Cecelia Ahern
Tradução: Maria João Freire de Andrade
ISBN: 9789722359658
Editora: Editorial Presença (2017)

Sinopse:

A vida de Celestine North é perfeita. Filha e irmã modelo, é muito popular junto dos colegas e professores e namora com Art Crevan, um dos rapazes mais encantadores da escola.
Mas Celestine vê-se confrontada com uma situação à qual reage por instinto, levada pela bondade. Quebradas as regras, terá de lidar com as consequências. Pode ser presa. Pode ser marcada a ferro quente. Podem obrigá-la a juntar-se às fileiras dos Imperfeitos.
Os Imperfeitos é um romance estonteante em que a autora bestseller Cecelia Ahern retrata uma sociedade em que a perfeição é essencial e em que a imperfeição é punida de forma exemplar, abordando temas atuais e complexos como o racismo, o bullying, a justiça, a verdade e a solidariedade.

Opinião:

Conhecia Cecelia Ahern, autora de livros como  P.S. - Eu Amo-te e Para Sempre, Talvez, de história românticas, foi por isso com surpresa que vi que a autora tinha publicado uma distopia destinada ao público jovem-adulto. Contudo, estes rótulos são sempre ingratos, pois muitas vezes não refletem a verdadeira dimensão de um livro. Garanto-vos que Os Imperfeitos é uma leitura destinada a todos, com uma mensagem forte e que, infelizmente, hoje parece estar a ser esquecida.

Logo no início, somos apresentados a uma sociedade que parece ter muitos pontos em comum com a nossa, mas também com fortes disparidades. É sugerido que a cação decorre num futuro não muito distante, numa fase que sucede uma forte crise. Nesta sociedade, existe o entendimento de que a paz, harmonia e prosperidade apenas poderá existir se as pessoas forem moldadas segundo padrões de perfeição. É curioso que, tal ideia, pode não parecer dramática, afinal, todos queremos ser o melhor que conseguimos, mas a verdade é que conforme a vamos explorando acabamos por perceber as suas fraquezas. Perante tal premissa, o leitor é levado, então, a pensar no que torna o ser humano perfeito ou não, ou se até mesmo tal conceito existe.

Perante isto, uma livro que, inicialmente, poderia sugerir a ideia de mais uma aventura distópica onde o amor adolescente tem papel central, acaba por se tornar numa obra forte que aborda temas como o preconceito, racismo, solidariedade, compaixão e bullying. Tudo isto é-nos apresentado através da experência da protagonista, Celestine, uma jovem que acreditava encaixar-se nos padrões exigidos, mas que acaba por perceber que existem fortes falhas na exigência de perfeição e na discriminação do outro.

Confesso que não simpatizei imediatamente com Celestine. Contudo, também penso que não era isso que a autora pretendia. Afinal, ela, numa fase inicial, representa os jovens que se encaixam num padrão que é bem visto pelos outros e que acaba por agir conforme aquilo que sabe que lhe é esperado. Mas um determinado evento leva-a a fugir das normas, e isso acaba por desencadear uma série de eventos cuja gravidade cresce como uma bola de neve. Perante isto, e sobretudo perante a descoberta do sentido crítico da protagonista e das suas demonstrações de coragem, esta figura torna-se cativante. Gostei do contraste que existia entre ela e a irmã e ainda da forma como elas evoluíram ao longo da narrativa.

Li o livro com rapidez, impressionada com as provações de Celestine e curiosa para saber como ela iria agir conforme novos obstáculos foram surgindo. Os momentos de prisão e as reações que existiram na escola foram aquelas que mais me marcaram. Também existe uma componente romântica, mas esta não toma o foco da narrativa, o que é um bom equilíbrio.

A história de Celestine faz-nos pensar nas vezes em que nos deparámos com injustiças mas que achámos melhor não interferir.  Afinal, esta tendência para ignorar o que de incorrecto encontramos pode estar a ajudar no crescimento de algo que condenamos. Faz-nos pensar no quantas vezes erramos por não agirmos. Esta mensagem, nos tempos que correm, é de grande relevância.

Os Imperfeitos apresentou-me uma história mais forte e cativante do que estava à espera. Apreciei bastante esta leitura, tanto pela componente de entretenimento como pela mensagem que passou. A forma como a obra termina deixa vontade para que o próximo volume chegue rapidamente. Aconselho a leitura.

Outras opiniões a livros de Cecelia Ahern:
Para Sempre, Talvez

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