domingo, 30 de abril de 2017

Opinião: Uma Magia Mais Escura (Shades of Magic #1)

Título Original: A Darker Shade of Magic (2015)
Autor: V. E. Schwab
Tradução: José Loja
ISBN: 9789899978577
Editora: Minotauro (2017)

Sinopse:

Kell é um dos últimos viajantes, magos com a capacidade rara e muito desejada de viajar entre universos paralelos, ligados através de uma cidade mágica. Existe a Londres Cinzenta, suja e aborrecida, desprovida de qualquer magia e regida por um rei louco: George III. Existe a Londres Vermelha, onde a vida e a magia são veneradas e onde Kell cresceu com Rhy Maresh, o herdeiro irreverente de um império próspero. Existe a Londres Branca, um lugar onde as pessoas lutam para controlar a magia e a magia contra-ataca, consumindo a cidade até aos ossos. Outrora, existiu a Londres Negra. Mas já ninguém fala dela. Kell é oficialmente o viajante da Londres Vermelha, embaixador do império Maresh, guardião da correspondência mensal entre as realezas de cada Londres. Não oficialmente, é um contrabandista, servindo as pessoas dispostas a pagar pelo mais pequeno vislumbre de um mundo que nunca verão. É um passatempo difícil, cujas consequências perigosas Kell sofrerá em primeira mão. Fugitivo na Londres Cinzenta, conhece Delilah Bard, uma fora da lei com aspirações grandiosas. Primeiro, rouba-o, depois, salva-o de um inimigo mortífero e, por fim, obriga-o a levá-la para outro mundo à procura de uma verdadeira aventura. Mas uma magia perigosa cresce e a traição está em todas as esquinas. Para salvar todos os mundos, têm, antes de mais, de sobreviver.

Opinião:

Estou rendida a esta aventura de V. E. Schwab. A sinopse já me tinha deixado a sensação de que Uma Magia Mais Escura tinha todos os ingredientes que me cativavam na literatura fantástica, mas ler este livro deu-me essa certeza. Gostei tanto desta leitura que acabei por me demorar mais tempo entre páginas, só para ter a possibilidade de permanecer entre Londres ao lado de Kell e de Lila durante mais tempo. Tarefa nada fácil, já que o desejo de descobrir toda esta aventura era grande.

Kell é um protagonista que captou logo a minha atenção. O livro começa com a descrição do seu casaco tão peculiar, o que me deixou logo com um sorriso no rosto. Com o passar das páginas, senti empatia por este jovem poderoso que acaba por assumir diversas facetas da sua personalidade mediante o lugar em que está e as pessoas com que interage. Fiquei rendida à mistura entre o seu lado negro e misterioso com o seu bom coração e sentido de humor distinto. A autora conseguiu manter um bom equilíbrio entre as peripécias de Kell, o desvendar do seu poder e as suas introspecções relacionadas com as suas origens e objectivos. Com esta figura, nenhum momento é cansativo.

A certo momento surge Lila, uma personagem de grande relevância, mas que, ao contrário de Kell, não me conquistou imediatamente. Senti-me intrigada por ela ao início, mas só a compreendi e estabeleci uma ligação com ela mais à frente na leitura. Talvez por isso, ela acabe por parecer mais humana e real do que Kell. O seu lado mais duro é fruto da experiência de vida, mas é ao perceber as suas fraquezas que dou mais valor à sua independência e coragem. A sua função é muito relevante para o desenrolar dos acontecimentos, além de que ajuda a dar uma nova visão sobre estas realidades paralelas. A certo momento, fica a sensação que, numa próxima aventura, esta figura terá um papel com um peso ainda maior e que grandes revelações estão para chegar.

As personagens secundárias estavam bem construídas, o que ajudou a dar mais força a esta história. Holland foi uma figura que despertou sentimentos contraditórios, percebendo-se que esta era a intenção da autora devido à forma como ele acabou por ser desvendado. Rhy, o príncipe da Londres Vermelha, é alguém com quem é fácil simpatizar, um grande companheiro de Kell que, apesar de tudo, esconde o receio de não ser quem todos esperam. Fica a ideia de que estas duas personagens ainda podem dar que falar na continuação da trilogia.

A sobreposição das quatro Londres, as semelhanças e diferenças entre as quatro cidades e a forma como cada uma acabou por evoluir é algo muito atraente. Estas quatro cidades são apresentadas com uma aura de mistério, sendo curioso que a autora consegue transmitir muito bem ao leitor os diferentes ambientes de cada uma. Na Cinzenta recordei uma outra época da nossa História, mas adorei a sensação de esperança de que algo de especial existe, mesmo que seja tido como impossível. A Vermelha representa uma realidade idílica, de grande beleza, prosperidade e esplendor que me fazia sentir vontade de explorar. A Branca choca pela crueldade, transmitido frieza e terror. A Negra é um verdadeiro mistério que tanto gera repúdio como curiosidade. Penso que as quatro acabam por transmitir as diferentes capacidades do ser humano e as suas consequências.

O desenrolar da narrativa está equilibrado. Se é verdade que existem momentos mais intensos, não senti aborrecimento em qualquer fase da leitura. A apresentação das diferentes realidades é cativante, não havendo descrições excessivas. São muitos os momentos de acção, repletos de adrenalina, descobertas e também da sensação de perigo. Existe uma ideia latente de romance, mas felizmente foi apresentada como algo muito secundário, não sendo precipitado ou roubando espaço ao que era realmente importante. Fiquei surpreendida com algumas revelações e até com algumas reviravoltas. O final, contudo acabou por ser algo esperado, ainda que a autora deixado algumas pistas inesperadas que dão a entender que o próximo volume desta trilogia apresentará grandes surpresas.

Apesar de este ser o primeiro volume de uma trilogia, a autora preocupou-se em fechar uma fase da história neste volume. Assim sendo, quem quiser arriscar a leitura, o que e recomendo fortemente, não ficará com a sensação de que ficou a meio de uma história. Fiquei muito bem impressionada com Uma Magia Mais Escura e com imensa vontade de começar a ler o segundo volume desta trilogia. Se gostam de grandes aventuras e de fantasia, então não percam este livro.

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