quarta-feira, 10 de maio de 2017

Opinião: Sobrevive

Título Original: The Last One (2016)
Autor: Alexandra Oliva
Tradução: Fernanda Semedo
ISBN: 978989880909
Editora: TopSeller (2017)

Sinopse:

Ela queria uma aventura. Nunca imaginou até onde podia chegar.

No começo, eram doze
Quando Zoo aceitou participar num programa de televisão, ela julgava que se tratava de um reality show. Sabia que ia ser testada até aos seus limites para bater os outros onze concorrentes em provas de sobrevivência, mas achou que valeria a pena. Depois das câmaras e dos desafios voltaria para casa, para formar uma família.

Mas o jogo parece não ter fim
Conforme os concorrentes vão quebrando, física ou psicologicamente, Zoo começa a questionar-se sobre a crescente dificuldade das provas. Pouco depois, dá por si sozinha. Todos os outros concorrentes desaparecem. As cidades vazias, os cenários grotescos. Porque é que o programa não acaba?

Descobrir a verdade é o princípio
O que estará a acontecer longe do olhar das câmaras? Zoo precisa de descobrir, e, acima de tudo, precisa de encontrar o caminho para casa de forma a retomar uma vida interrompida.

Opinião:

A capacidade que o ser humano tem para sobreviver a todo o custo é verdadeiramente impressionante. Com base nesta ideia, Alexandra Oliva, a autora desta obra, leva-nos por uma aventura inesperada, que mistura a ficção com a realidade ao ponto de, a certo momento, duvidarmos de tudo o que está a acontecer. Sobrevive é um livro diferente de tudo o que li até aqui.

A história começa com a dura verdade. É curioso que, mesmo tal informação sendo fornecida, muitas vezes desconfiei que a autora poderia estar a esconder algo. Esta percepção resulta do esforço que Zoo, a protagonista, faz para superar todos os desafios que lhe são colocados. Contudo, Zoo pensa que estes obstáculos foram planeados pela equipa de produção do reality show em que está a participar. E agora surgem as dúvidas: o que é realidade e o que é fabricado? Onde está o limite? Ao longo de toda a leitura tentei descobrir estas respostas que só são fornecidas mesmo perto do final. Adorei a forma como tudo fez sentido quando estas informações surgiram.

Zoo, a protagonista, cria empatia com facilidade. Como participante de um reality show muito ao estilo de "Survivor", ela procura um desafio, sair vencedora e ainda transmitir ao público o seu melhor lado. A forma como a autora a construiu é bastante cativante. A dificuldade que ela tem em manter uma máscara tranquila e alegre em todos os momentos está bem explorada. O seu entusiasmo em aplicar técnicas e adquirir novos conhecimentos para sobressair nas provas provam que não é inferior a qualquer homem. A sua coragem e determinação são de louvar, especialmente a partir de certo ponto da trama.

As outras personagens acabam por pertencer a um certo estereótipo, mas isso parece ter sido pretendido pela autora, ou não fossem estas figuras apresentadas pela sua profissão. Afinal, Alexandra Oliva explorou a componente reality show em todas as suas vertentes. Faz sentido que todos os concorrentes tenham personalidades tão diferentes, sendo que cada um representa quase uma personagem esperada neste tipo de programas. A preparação das provas durante a competição e a forma como o que está por trás das câmaras foi apresentando faz-nos recordar que estes programas são completamente fabricados, mesmo quando se esforçam para mostrar algo mais natural. As descrições da autora sobre a edição de certos momentos são deliciosas e fazem pensar sobre a manipulação que existe nos media.

Ao lado da vertente reality show existe a distopia. Logo desde início fica a informação de que algo está a ameçar a humanidade enquanto Zoo está no programa. Fiquei impressionada com os mecanismos que Zoo desenvolveu para seguir em frente e para assegurar a sua sobrevivência. Através de uma introspecção bem conseguida, a autora faz pensar sobre o facto de muitas vezes não acreditamos no que está à nossa frente como forma como forma de nos protegermos e sermos capazes de seguir em frente. Estes mecanismos da mente são bem representados em diversos momentos que causam arrepios.

Gostei bastante desta leitura, mas confesso que o início demorou a arrancar. As primeiras páginas não me levaram a entrar logo na história, até porque senti que tudo estava disperso devido ao intercalar de capítulos. Contudo, a certo momento, comecei a ficar cada vez mais interessada e acabei por devorar as páginas que ainda tinha pela frente. Não fiquei surpreendida pela relevação que é feita no final, mas gostei que tal tivesse acontecido. Gostaria que tivessem surgido mais explicações sobre o que realmente aconteceu e sobre como tudo iria seguir daí para a frente.

Sobreviver é um livro que parece tão próximo que nos faz temer pelo futuro. A história é forte e tão diferente que acredito que irá permanecer a minha memória. Fiquei com a sensação de que algumas informações ficaram em falta, mas, no geral, apreciei bastante esta leitura que mistura reality shows e distopias de forma original e bastante real, e que ainda nos faz pensar sobre o que seriamos capazes de fazer para sobreviver em condições tão adversas.

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