quarta-feira, 5 de julho de 2017

Opinião: Vemo-nos no Cosmos

Título Original: See You in the Cosmos (2017)
Autor: Jack Cheng
Tradução: Francisca Cortesão
ISBN: 9789896652760
Editora: Nuvem de Letras (2017)

Sinopse:

Alex é um rapaz de onze anos obcecado com o Espaço. Admirador incondicional do grande cientista Carl Sagan, o seu sonho é seguir-lhe as pisadas e enviar para o espaço o seu iPod dourado com gravações de sons do planeta Terra. Para cumprir a sua missão de dar a Humanidade a conhecer a civilizações alienígenas, construiu um foguetão e apanhou, acompanhado pelo seu cão Carl Sagan, um comboio rumo ao festival de lançamento de foguetões artesanais.
Numa viagem cujo destino insiste em mudar a cada paragem, o inocente e doce Alex irá aprender que nem tudo é o que parece, que a família perde-se e ganha-se ao longo do caminho, e que a coragem, a verdade e o amor são as únicas bússolas de que realmente precisamos.

Opinião:

Este é um daqueles livros que é lido com rapidez e vontade. Que acaba mais rápido do que o desejado e que deixa o coração mais quente. Fiquei rendida a Vemo-nos no Cosmos desde as primeiras páginas. Jack Chen, o autor desta obra, tem a difícil capacidade de recordar como trabalha a mente de uma criança. Ao escrever esta obra na primeira pessoa, leva-nos numa viagem maravilhosa, marcada pela inocência, esperança, confiança, alegria e dor.

Alex é o protagonista desta história, o rapaz que narra tudo o que lhe acontece através de gravações de voz e que é completamente apaixonado pelo espaço e a exploração espacial. Ele é um menino entusiasta, alguém que acredita no bem do mundo e na realização de todos os sonhos. É uma verdadeira ternura acompanhá-lo, mas quando nos apercebemos que nem tudo na sua vida é um mar de rosas, parece que nos são dados pequenos murros no estômago. Apesar da tenra idade, ele é inspirador, alguém que realça nos outros o melhor que têm para dar.

O desenrolar dos acontecimentos cativa. Ao principio, é um pouco insólito imaginar um menino de 11 anos a partir para tal aventura, mas depois percebemos que a sua realidade familiar não é comum, o que justifica o que acontece. Alex não vê maldade em nada nem ninguém, e isso leva-o a passar com um sorriso por situações mais duras. A forma como ele lidava com os imprevistos era sempre inesperada, ficando patente o seu grande coração e sentido de responsabilidade.

As pessoas que ele conhece podem gerar alguma dúvida no leitor. Afinal, e ao contrário de Alex, nós somos mais desconfiados. Contudo, as mudanças que ele opera naqueles que encontra levam-nos a pensar que cada pessoa pode fazer a diferença na vida do outro. Através dos olhos de uma criança, somos então levados a pensar no que podemos fazer por quem está ao nosso lado, quer seja conhecido ou desconhecido. Somos levados a pensar em como a nossa atitude pode afetar quem nos rodeia, no melhor e no pior.

O estilo de escrita usado é maravilhoso, não por ser tecnicamente perfeito, mas por conseguir transmitir tão bem os pensamentos de um menino de 11 anos. Como tal, existem frases mais longas, ideias um pouco mais confusas, tudo porque é assim que Alex está a pensar, está a falar. Esta é mais uma característica que nos leva a acreditar na veracidade desta personagem e da sua história. É também curioso como, através das suas descrições, regra geral inocentes, nos apercebemos do que se está a passar com as personagens adultas.

Adorei conhecer Alex e aqueles que ele foi encontrado no seu caminho, mas, terminada a leitura, fiquei com pena de que ficassem a faltar muitas respostas. Percebo que, devido à forma como a narrativa estava a ser conduzida, num género de diário, seria complicado perceber o que tinha, na verdade, acontecido às personagens secundárias, mas ainda assim ficou a sensação de que havia muito mais por dizer.

Vemo-nos no Cosmos é um daqueles livros que aquece o coração. Apesar de ser apresentado como destino a um público muito jovem, a verdade é que muitas das subtilizes da escrita e da narrativa só podem ser devidamente apreciadas por um leitor mais maduro. Uma obra de grande sensibilidade, que nos faz acreditar na bondade dos outros e num futuro melhor.

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