sábado, 24 de fevereiro de 2018

Opinião: A Revelação do Bobo (Saga Assassino e o Bobo #2)

Título Original: Fool's Quest (2015)
Autor: Robin Hobb
Tradução: Jorge Candeias
ISBN: 9789897730931
Editora: Edições Saída de Emergência (2018)

Sinopse:

Depois de garantir que nunca mais a deixaria só ou negligenciada, Fitz abandonou a sua filha Abelha para correr para Torre do Cervo a fim de tentar salvar a vida do velho amigo Bobo. A consequência foi a mais terrível: um ataque à sua casa e o rapto da pequena, que desaparece sem deixar rasto.

Encontramo-lo neste volume dilacerado entre as obrigações para com o Bobo e o que a consciência lhe exige que faça para tentar recuperar a filha. Mesmo o regresso a Torre do Cervo traz grandes perigos, pois no local onde nasceu e viveu durante muitos anos ainda perdura a sua má fama de Bastardo Manhoso e assassino. O que poderá Fitz fazer para trazer a paz de novo ao seu mundo?

Opinião:

Não resisti e tive de começar a ler este livro assim que me chegou às mãos. Depois de ter ficado conquistada com o Assassino do Bobo, o primeiro volume da nova saga de Robin Hobb, "O Assassino e o Bobo", estava muito curiosa para descobrir os desenvolvimentos que a autora iria dar a esta aventura. A leitura de A Revelação do Bobo começou, então, com expectativas, sendo que o primeiro capítulo fez recordar imediatamente o lado mais chocante, cruel e doloroso da escrita de Hobb. Sim, esta parte da história começa com um murro no estômago.

A narrativa segue os acontecimentos do livro anterior. Desta forma, vemos as nossas atenções divididas entre o que se passa com Fitz e o que está a acontecer a Abelha. Em boa parte da narrativa, a autora foca-se no regresso do protagonista a Torre do Cervo, sendo bom vê-lo de novo num espaço onde passou por tanto e a regressar às intrigas da Corte. A proximidade do Bobo, apesar da situação dramática que este está a viver, também nos apele à curiosidade, afinal estas são duas personagens que têm uma ligação bastante forte. É bom ver que isso não se perdeu, apesar do tempo e da distância, e é com curiosidade que assistimos a este reencontro e aos diálogos que existem entre ambos. Ao mesmo tempo, fica sempre latente em nós aquela vontade de que Fitz perceba o que está a acontecer com Abelha e parta para a acção.

Existe uma certa lentidão no desenrolar dos acontecimentos na maior parte do livro. Já como tinha acontecido com o volume anterior, isso não faz com que a história seja desinteressante, pois as personagens cativam e as pequenas nuances que vão surgindo chamam sempre a atenção. Esta é a fase de percebermos quem são realmente estas figuras e de assistirmos às complexas relações que estabelecem. Ao longo desta fase, vemos Fitz a mudar lentamente, sendo curioso ver como o seu papel muda de uma forma inesperada na corte. Mais perto do final acontece um grande choque que o leva a enveredar por um caminho que tinha prometido não voltar a seguir. As várias camadas da personalidade deste homem continuam a impressionar e a torná-lo impressionante, uma figura incomparável e que continua a conquistar um lugar de destaque entre as personagens de ficção fantástica.

O regresso do Bobo é visto com um misto de sentimentos. Por um lado, estou bastante feliz por ver esta figura tão querida de regresso, mas por outro é com tristeza que assisto à sua condição. Saber as grandes dificuldades que atravessou e como mudou é chocante. Queremos que ele seja capaz de superar o passado, mas percebemos que é impossível que este homem volte a ser o que era. Por isso mesmo, as descrições sobre o seu corpo, os seus discursos e estados de espírito não deixam o leitor indiferente. No final é feita uma revelação que está relacionada com o Bobo e, apesar de ser algo esperado, não deixa de provocar espanto e dar uma sensação de esperança.

Abelha foi a personagem que mais gostei de acompanhar no volume anterior. Como tal, gostaria de ter estado mais perto dela neste livro, mas tal não aconteceu. Queria muito saber mais sobre o que lhe aconteceu sobre as pessoas que provocaram tudo aquilo, mas a autora aumenta o suspense ao dar apenas uma dose de informação reduzida. Ainda assim, fiquei impressionada com a inteligência desta pequena criança e do que ela faz para garantir a sua sobrevivência, sempre a pensar no que poderá fazer para escapar daquela situação. É curioso vê-la a ter Esquiva como aliada, depois de tudo o que aconteceu entre ambas. Os pequenos dados que nos são dados sobre os seus captores deixam-nos perceber ligações mais profundas entre o que aconteceu ao Bobo.

Robin Hobb não facilita a jornada das suas personagens, deixando o leitor sempre na expectativa do que virá depois. Apesar de ter estado à espera de mais ritmo e acção, gostei muito desta leitura, que funcionada como uma preparação para um grande final.  O leitor sente que está sempre no fio da navalha e quer saber mais sobre estas personagens, que, apesar de já serem exploradas há algum tempo, não deixam de impressionar. As aventuras são sempre novas, desafiantes, com revelações inesperadas e conclusões impossíveis de adivinhar. Robin Hobb é mesmo uma autora que se destaca. Agora, que venha o próxima, que eu já estou preparada para o ler.

 

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