domingo, 2 de setembro de 2012

Opinião: O Homem do Castelo Alto

Título original: The Man in the High Castle (1962)
Autor: Philip K. Dick
Tradutor David Soares
ISBN: 9789896372767
Editora: Edições Saída de Emergência (2010)
O Homem do Castelo Alto apresenta uma história alternativa do escritor norte-americano Philip K. Dick, autor de outras narrativas conhecidas como Blade Runner e Minority Report, ambas adaptadas para o cinema.

O romance já tinha sido publicado na colecção Argonauta, da editora Livros do Brasil, dividido em dois volumes, mas a Saída de Emergência decidiu ressuscitar aquele que é para muitos, o melhor livro do autor e vencedor de um prémio Hugo.


Sinopse:

Considerada a obra-prima de Philip K. Dick, apresenta uma versão alternativa da história do século XX. Tudo começa quando, na 2ª Guerra Mundial que termina em 1947, os aliados são derrotados pelas forças alemãs e japonesas, que instauram uma nova ordem mundial em torno de regimes militares opressivos. Em plena década de 60, o mundo está dividido entre estas as duas facções que vivem num clima de guerra fria. A acção passa-se nos Estados Unidos da América, país derrotado e dividido, ocupado a leste pelos alemães e a oeste pelos japoneses.



Opinião:

O autor apresenta um mundo diferente daquele que nós conhecemos, mas possível de ser imaginado. A situação global é bastante diferente daquela que foi verificada na realidade: o Mediterrâneo foi drenado com o objectivo de aumentar o solo fértil, a população de África foi dizimada por motivos científicos e racista, os judeus são perseguidos e é possível observar grandes avanços científicos nas áreas militares e de exploração espacial.

É dentro desta nova ordem que o leitor segue o caminho de cinco personagens bastante reais e humanas e com diferentes origens e visões da situação em que vivem. Philip K. Dick expõe estas personagens embrenhadas no seu quotidiano, revelando de que forma esta ordem afecta as suas vidas e apresenta as dúvidas que podem levar a alcançar um estado de paranóia.

O autor explora com mestria os desenvolvimentos das suas personagens. Se por um lado existe o judeu disfarçado que tenta vingar num negócio próprio, por outro há o japonês fiel ao império que se depara com verdades que o fazem colocar em causa a sociedade em que está inserido. Philip K. Dick consegue entrelaçar todas estas histórias tão díspares de uma forma genial, conseguindo fornecer diferentes pontos de vista que convergem para um único sentido.

Este romance existencialista apresenta os dois regimes opostos de uma forma subtil mas bastante interessante. A Alemanha surge com uma potência impiedosa e carniceira, com um elevado nível tecnológico direccionado para as conquistas no espaço e para o poder militar. O Japão é apresentado como uma sociedade hierárquica, pós-medieval, onde os bons costumes e a tradição milenar do I Ching é sobrevalorizada.

O autor faz ponderar sobre como pequenos detalhes podem mudar o curso da história, explora os limites humanos, mas também questiona os factores da condição humana, uma vez que, no lado japonês existe a questão das hierarquias sociais rígidas, enquanto, no lado alemão, todo aquele que não é útil ao regime é eliminado.

Para além do fabuloso romance de Philip K. Dick, esta edição possui ainda um ensaio muito interessante do jornalista e comentador Nuno Rogeiro sobre o autor e a obra.


O Homem do Castelo Alto é um livro impressionante. Fica a dúvida sobre a certeza ou ilusão da realidade exterior ao Homem, num universo em decadência lenta e progressiva, e a ideia de que um pequeno detalhe pode fazer toda a diferença.

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