quinta-feira, 3 de maio de 2018

Opinião: Os Humanos

Título Original: Humans (2013)
Autor:Matt Haig
Tradução: Eugénia Antunes
ISBN: 9789898869821
Editora: TopSeller (2018)

Sinopse:

E se a terra fosse o planeta mais absurdo do universo?
O professor Andrew Martin, génio matemático, acaba de descobrir a chave para os maiores mistérios do Universo. Ninguém sabe do salto que isto representará para a Humanidade? exceto seres evoluídos de outro planeta.
 Determinados a impedir que esta revelação caia nas mãos de uma espécie tão primitiva quanto os humanos, estes seres enviam um emissário para destruir as provas. E é assim que um alien intruso, completamente alheio aos costumes, chega à Terra. Rapidamente, ele descobre que os humanos são horrendos e têm hábitos ridículos ? comida dentro de embalagens, corpos dentro de roupas e indiferença por trás de sorrisos? Esta espécie não faz sentido!
Durante a sua missão, sob a pele e identidade de Andrew Martin, este alien sente-se perdido e odeia todos os terráqueos. Exceto, talvez, Newton, um cão. Contudo, quanto mais se envolve com os que o rodeiam mais fica a perceber de amor, perda, família; e de repente está contagiado: será que afinal há qualquer coisa de extraordinário na imperfeição humana?

Opinião:

Este é um livro muito peculiar e que marca. Começa por parecer uma comédia meio absurda, mas com o deserolar da trama a carga dramática aumenta até que, nas últimas páginas, estamos completamente sensibilizados com as lições partilhadas. Com Os Humanos, Matt Haig parece mesmo estar a avisar-nos que nem sempre encaramos a vida como deveríamos e que, muitas vezes, as nossas prioridades não estão correctas. E tudo isso faz com que a humanidade acabe por parecer ridícula.

Qual a melhor forma de observar e analisar a vida humana do que colocar um ser extraterrestre a tentar comportar-se como um homem? Completamente alheio à vida na Terra, esta criatura tem de assumir a pele de Andrew Martin, um génio matemático. É divertido assistir ao primeiro impacto deste ser no nosso planeta, a forma como comunica com os outros humanos, como reage aos nossos hábitos e à nossa forma de viver. Isto dá origem a momentos hilariantes, mas que ao mesmo tempo nos levam a interrogar muito do que tomamos como certo.

Com o avançar da narrativa, começamos a assistir a uma profunda crítica à nossa sociedade. Este ser questiona tudo e começa a perceber que a vida humana só tem sentido pelo amor aos outros, pela liberdade, pelo facto de sabermos que tudo é éfemero e, por isso mesmo, dever ser aproveitado ao máximo. A mudança de pensamento protagonista acontece de forma gradual, o que, ao mesmo tempo, provocanda uma alteração no tom da escrita, que acaba por se tornar mais séria, chegando-nos ao coração.

Ver um ser analítico e extremanente racional a desenvolver sentimentos conforme vai estabelecendo relações é enternecedor. A devoção que desenvolve pela mulher do verdadeiro Andrew e o carinho e companheirismo que estabelece com o filho deste recordam-nos que a família é realmente o pilar fundamental da nossa sociedade. É aí que encontramos a nossa base e a partir daí que conseguimos estabelecer todas as outras relações, quer seja com pessoas como com o mundo.

Nas páginas finais, existe um capítulo que merece ser relido vezes sem conta. Trata-se de uma lista com 97 pontos de todos os conselhos que este alien tem para dar a um ser humano. Alguns pontos são engraçados e refletem alguns momentos engraçados das primeiras páginas, sendo que todos os outros nos levam a fazer um exame de consciência sobre as nossas escolhas, prioridades, valores e forma como estamos a viver. Um lembrete magnifício sobre o que é realmente importante e sobre o facto de não devermos deixar a felicidade para ser vivida mais tarde. Tudo deve acontecer agora.

Matt Haig explica que escreveu Os Humanos num período muito conturbado na sua vida. O resultado final é merecedor de um forte aplauso. Se esta obra ajudou o autor a ultrapassar essa fase difícil, de certo poderá ser uma ajuda preciosa para quem se encontra perdido ou sem encontrar um sentido para o qual se virar. Para todos os leitores, este livro não só propociona um bom momento como nos faz ter vontade de parar de adiar sonhos e ser feliz. E não é isso que importa na nossa existência? Recomendo.

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